Curso capacita mulheres de Canudos na produção de cosméticos artesanais
Iniciativa envolve pesquisadores do Câmpus Goiânia do IFG e da Universidade Federal de Goiás
Grupo de pesquisadores do Câmpus Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG) desenvolve ação de extensão junto à comunidade do assentamento de Canudos, localizada na região entre os municípios de Palmeiras de Goiás, Campestre e Guapó. Intitulado Plantas medicinais e cosméticos naturais em Canudos, o curso tem o objetivo de capacitar as moradoras do assentamento que já trabalham com a produção de cosméticos, xaropes e outros produtos derivados de substâncias extraídas das plantas da comunidade local, aperfeiçoando suas técnicas e, consequentemente, melhorando a comercialização desses itens.
A ação faz parte do projeto de extensão Plantas das Guerreiras de Canudos – ações de interação entre a cultura e conhecimento da comunidade e produção de inovações tecnológicas, contemplado pelo edital 03/2019 da Pró-Reitoria de Extensão do IFG. A ideia de oferecer a capacitação surgiu durante as visitas in loco, realizadas pela equipe do projeto. “Elas manifestaram o interesse em melhorar a produção delas. Então nós fomos conhecer o local onde é produzido, como era feita essa produção, como o material era armazenado. A gente detectou algumas coisas que nós poderíamos contribuir desde a produção até a fase de armazenamento. Foi aí que surgiu o curso de extensão”, conta a professora Waléria Rodovalho, que faz parte da equipe de pesquisadores do projeto.
Coordenado pela servidora e química do Câmpus Goiânia, Emiret Otoni de Faria, o curso aborda a questão da naturalidade das composições de cosméticos produzidos pelas mulheres de Canudos, como: sabonetes, aromatizadores, difusores, entre outros. Na ocasião, são apresentadas boas práticas de produção de cosméticos, apresentação de técnicas de extração de compostos bioativos: óleo essencial e extratos glicólicos, além de técnicas artesanais para produção de sabonetes em barra, líquidos, álcool em gel e difusores.
“A gente valoriza muito o conhecimento tradicional de cada uma delas e a ideia é poder contribuir, repassar as definições de normas sanitárias, as normas práticas de produção, de legislação de rótulos. Nesse primeiro encontro, temos abordado temas de diferenciação do que são cosméticos veganos, orgânicos, sintéticos, como são extraídos esses compostos bioativos, conservação desse princípio”, detalha a servidora.
Os pesquisadores também procuram levar à comunidade técnicas de reaproveitamento das plantas utilizadas; ensinar tecnologias simples e acessíveis de extração de óleos essenciais com materiais alternativos (como panela de pressão), com o intuito de ampliar a linha de produtos da “Farmacinha”, como é conhecido o local de produção dos itens da comunidade.
Guerreiras de Canudos
Emiret explica que o curso foi pensado justamente para dar força e valorizar as mulheres do assentamento, que são responsáveis, na maioria dos casos, pelo sustento familiar. Para tanto, utilizam os recursos vindos de suas hortas ou retirados das matas próximas para elaboração de itens medicinais e cosméticos de forma artesanal. A comercialização desse material é feita em feiras e na própria comunidade.
Segundo a coordenadora do projeto, o grupo é formado por aproximadamente 30 mulheres pertencentes a mais de 300 famílias que estão no assentamento de Canudos. “São mulheres muito fortes e que estão muito envolvidas no processo de produção”, enfatiza.
O curso de extensão, para a professora Waléria Rodovalho, é uma forma de contribuir para que essas mulheres melhorem sua produção e suas vendas, potencializando o retorno financeiro. Paralelo a isso, a ação também objetiva incentivar e fortalecer práticas sustentáveis, preservar o conhecimento tradicional, estimular as trocas de saberes, contribuir com a inclusão produtiva e desenvolvimento tecnológico regional e para o fortalecimento do empreendedorismo econômico solidário entre as mulheres da região.
Além da capacitação, a equipe do curso tem o intuito de elaborar uma cartilha contendo receitas dos cosméticos e informações sobre as plantas medicinais cultivadas em Canudos.
Pesquisa para a comunidade
Para Emiret, além de valorizar o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais, a ação de extensão credita os saberes milenares que cercam as plantas medicinais e cosméticos naturais. “A gente precisa lembrar sempre que os medicamentos encontrados na farmácia, sintetizados, que já são muito difundidos e concretizados, a maioria sempre veio de um conhecimento popular. Ele é a base disso tudo. Conhecimento que foi passado de geração para geração, na prática. Muitas das pesquisas acadêmicas, para a fabricação de novos medicamentos, vêm a partir das plantas medicinais e desse saber. É importantíssimo valorizar que esse conhecimento é daquela comunidade, ficar gravado”, acredita.
A professora Waléria Rodovalho destaca também que ações de extensão, como essa, dão oportunidade para que a academia colabore com o desenvolvimento social. “A pequisa em si não pode ser focada apenas nela. É preciso ter um propósito. Quando a gente tem a possibilidade de sair e ter contato com comunidades como essa e poder contribuir, eu acho que dá esse sentido. Porque você tem a oportunidade de talvez mudar a vida dessas pessoas para melhor. É a nossa intenção. Essa troca de saberes também é fantástica. Elas sabem coisas que a gente nem imagina. E para a gente é uma fonte rica de pesquisa. É uma mão dupla”.
O contato com a comunidade de Canudos e seus conhecimentos sobre plantas medicinais extrapolam o projeto de extensão e já rendeu inspiração e tema para diversos trabalhos no Câmpus Goiânia. De acordo com Emiret, ações de iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso envolvendo os cursos da área ambiental e de química na instituição.
Além de Emiret e Waléria, participam do grupo que conduz as ações de extensão o servidor Marcus Vinicius Ramos, os professores Iversen Fernandez Malentachi e Alessandra Rodrigues Duarte, todos do IFG, em parceria com a docente Vanessa Pasqualoto Severino, da Universidade Federal de Goiás (UFG). O trabalho envolve também os alunos Nathalia Castilho, Fabiany Rocha Silva, Braitner Cabral Oliveira, do Bacharelado em Química; Lilian Marcassine Sampaio e Isabela Maia Monteiro, do técnico integrado em Controle Ambiental do Câmpus Goiânia; e Luziano Neto, do curso de Farmácia da UFG.
Coordenação de Comunicação Social do Câmpus Goiânia.
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