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Secitec 2021

Egressos de licenciatura relatam desafios contemporâneos para o docente

Publicado: Quarta, 08 de Dezembro de 2021, 23h48 | Última atualização em Quarta, 15 de Dezembro de 2021, 17h00

Educação especial, articulação entre teoria e prática, violência escolar, jornada docente, baixa remuneração e ensino a distância: temas atuais em debate

Mesa tratou de temas importantes para a carreira docente
Mesa tratou de temas importantes para a carreira docente

Três alunos egressos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Câmpus Formosa participaram, na noite dessa terça-feira, 9 de dezembro, da mesa-redonda Desafios Contemporâneos para a Atuação Docente: Licenciaturas em Debate, mediada pela professora Kaithy das Chagas Oliveira, no canal Eventos- IFG Câmpus Formosa, no YouTube, durante a Semana de Educação, Ciência e Tecnologia (Secitec).

A professora de História da Educação do Câmpus Formosa, Kaithy Oliveira, contextualizou as licenciaturas do Câmpus, relatando a expansão da Rede Federal de Educação Tecnológica e Profissional e a implantação do Instituto Federal de Goiás (IFG) em Formosa, em 2010, ano em que também teve inicio o primeiro curso superior da Instituição – Licenciatura em Ciências Biológicas.

A inserção das licenciaturas na Rede Federal foi instituída pela lei de criação dos Institutos Federais, a Lei nº 11.892/2008, que determina que 20% dos cursos ofertados sejam licenciaturas. De acordo com a doutora, “se trata de uma grande conquista, sobretudo por estar nos Institutos Federais, porque eles fazem parte de um rol mais amplo de políticas educacionais no sentido de interiorizar a presença de cursos superiores no Brasil, democratizando o acesso à Instituição”.

Para garantir o direito à educação, uma série de políticas foram construídas ao longo do tempo, como a ampliação da rede de educação básica, do número de anos de formação na educação básica, a melhoria na formação de professores e das suas condições de trabalho e a interiorização dos IFs.

 

Criação das licenciaturas

A Licenciatura em Ciências Biológicas surgiu a partir da constatação da escassez, na época, de profissionais docentes formados na cidade e nos municípios vizinhos, e de estudo sobre o panorama dos cursos de licenciatura da região. “Ela foi pensada para garantir a formação de novos professores”, pois, conforme Kaithy, “era um campo deficitário, com poucos profissionais formados, atuando na educação básica”.

A implantação do curso de Licenciatura em Ciências Sociais em 2013 também surgiu pela observação do déficit de docentes nessa área e por estudo realizado naquele momento. Conforme a professora, a pesquisa realizada na cidade mostrou que havia apenas um profissional formado na área.

 

Formação para a docência

“Formar professores é um aspecto imprescindível para garantir o direito à educação”, afirmou a professora. Para haver a escolarização é necessário vários elementos, como estrutura física, biblioteca, alimentação, localização acessível e formação de professores. “A docência é uma profissão que exige uma formação técnica especializada. As pessoas acham que tem que ser um dom, não se trata disso. A docência é uma profissão”, declarou a mestra.

Segundo Kaithy, após a Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, do Conselho Nacional de Educação, a formação de professores atingiu outro patamar, pois determinou uma série de diretrizes, estabelecidas em fóruns de educação, que deveriam constar na formação de docentes, para que eles tivessem uma formação pedagógica e técnica ampla.

 

 “A teoria não é uma receita de bolo. A gente precisa enfrentar nas nossas experiências desafios que às vezes não estão muito bem descritos no passo a passo”, declarou a docente Kaithy Oliveira.

Dificuldades

“Nos últimos anos a gente tem assistido a um desmonte deste sonho constitucional, do pensar a educação como um direito”, refletiu a doutora. “É um ataque orquestrado para destruir essa possibilidade de educação”, pois a Resolução de 2015, construída com a participação de muitos profissionais especializados ao longo dos anos, "foi substituída por outra em 2019 que desconfigura totalmente a intenção de educação como um direito e passa a tratar o professor como um executor de manuais, que não tem acesso ao conhecimento mais amplo”. Ela explicou que, ao analisar o documento, é possível perceber a ideia de “formar muitos e formar rápido, para que eles não tenham tempo para reflexões e sejam meros executores de manuais. Isso interessa muito ao mercado educacional”, completou.

Além disso, Kaithy também citou a reforma da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a reforma do Ensino Médio articulada com reformas trabalhistas, a tramitação da reforma administrativa, o currículo em disputa e o negacionismo científico como formas de desestruturar a educação.

 

Educação especial

Os ex-estudantes Wellington Vaz, Thaís Badú e Ludmilla Xavier apresentaram suas experiências de vida adquiridas após a graduação. Ludmylla, aluna do IFG entre 2015 e 2020, relatou que, quando ainda estudava, foi contratada como professora intérprete em uma escola estadual de Formosa que oferta o segundo nível do ensino fundamental. “Foi uma experiência gratificante, mas cheia de desafios, dificuldades, com momentos em que pensei em desistir. Não é fácil trabalhar na área da docência. Você tem que ter muita paciência, garra e buscar meios de melhorar a sua atuação”, declarou.

Ela contou que na referida escola havia muitos alunos com necessidades educacionais especializadas (PNEEs), alunos com transferência compulsória por indisciplina, menores infratores e com abandono familiar, e qu,e às vezes, tinha que substituir o professor regente, em eventuais faltas. “Mesmo trabalhando apenas diretamente com essa aluna surda, eu convivia e lidava também com esses alunos”. Ludmylla disse que o fato de ainda estar na faculdade a ajudou a lidar melhor com a situação. “Estando na faculdade, eu conseguia entender que, como professora regente, eu não preciso ter um posicionamento autoritário para tentar controlar a turma”, assinalou.

O Laboratório de Ensino do IFG Câmpus Formosa contribuiu para que Ludmylla atendesse a estudante surda com didáticas diferenciadas. Ela utilizava os materiais produzidos pelos próprios alunos das licenciaturas. Além disso, especialmente a disciplina de Didática foi base para o desenvolvimento de métodos criativos de ensino. “A faculdade tem um papel muito importante ao trabalhar com os futuros professores para tentar parar com este discurso de desigualdade, de diferenciação”, afirmou.

 

Desafio de vida

Wellington Vaz, ingressante no IFG em 2011 e formando em 2018, após um longo período de inatividade acadêmica, voltou a estudar com o incentivo de colegas de trabalho. “Das cinco pessoas [da empresa] que fizeram o processo seletivo, apenas eu tinha passado”, relembrou o biólogo. “Fiquei muito emocionado na época. Eu tinha um problema de autoafirmação: não sabia se estava preparado para enfrentar uma faculdade, passando dos trinta anos. Fiz mais isso, não por mim, mas eu queria deixar um legado para os meus filhos”.

“Foi o Instituto Federal que trouxe isso pra mim, essa oportunidade de conhecer o que realmente é o meio ambiente, o que é o ser vivo. Eu sou muito feliz em dizer que tenho este título: biólogo do Instituto Federal de Formosa”, disse o aluno egresso Wellington Vaz.

A filha de Wellington, Mariana, a qual ele nomeia carinhosamente de “patrimônio do Instituto Federal de Formosa”, cursou Biotecnologia no ensino médio do Câmpus Formosa e está concluindo o curso Bacharelado em Engenharia Civil do IFG, segundo ele, “por inspiração” ao ver a dedicação do pai. “Foi muito difícil minha caminhada no Instituto, porque a gente tem que trabalhar, estudar, cuidar de casa, mas mesmo assim, nunca desisti. Fiz muitas amizades, conheci professores maravilhosos que me ensinaram, me inspiraram”, salientou o ex-aluno.

O participante narrou sua experiência ao realizar estágio em escola pública e citou a presença de todas as formas de violência escolar nas instituições. Wellington não atua na área, mas aplica os conhecimentos que aprendeu no curso de Ciências Biológicas na alimentação do seu hobby, que é fazer trilhas. O curso lhe deu a oportunidade de conhecer a natureza mais intimamente e enxergá-la com outros olhos. “A biologia me despertou muito para esse mundo, aprender a valorizar o ecossistema, o ser humano”, analisou.

 

 Mudança da cultura escolar

Thaís Badú começou sua caminhada como estudante de licenciatura em 2015. Ao entrar no curso, queria ser pesquisadora. Ela assumiu que tinha preconceito com a carreira docente e não queria seguir a docência. No IFG participou do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), o que a levou a iniciar sua carreira no magistério em uma escola estadual, onde pôde aplicar a teoria da sala de aula. Ela percebeu na prática o excesso de carga horária extraclasse do docente e a baixa remuneração, mas, em contrapartida, diz que perdeu o medo e a vergonha de falar em público.

Ainda na graduação, a bióloga atuou como estagiária do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), trabalhando como professora de apoio na área da inclusão. “Eu tinha muito auxílio no IF com modelos didáticos que podíamos levar à sala de aula para estimular o aluno. Foi sensacional para mim”, relatou. Ainda estagiou na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A professora formou-se em 2020, durante a pandemia, e, por isso, só conseguiu entrar no mercado de trabalho cerca de um ano depois, mas atuando na docência, em uma escola da rede particular. Ela afirmou que se sentiu acolhida e até hoje leciona no local, no entanto, encontra dificuldades. “Foi um desafio e ainda está sendo. Como vou criar um vínculo com o aluno, já que agora as aulas não são mais presenciais, mas online?”, ponderou, e ainda complementou, “quando o discente tem esse vínculo com o docente, auxilia muito no seu processo cognitivo, nesse crescimento intelectual”.

Um novo desafio enfrentado por ela é o ensino híbrido. “Ao mesmo tempo que você está na sala de aula com alguns alunos presenciais, você também está falando com alunos que estão online”, refletiu. Ela acrescentou que a mudança da cultura escolar também lhe causou estranhamento, a exemplo do uso do aparelho celular na sala de aula. “Agora, na vida em pandemia, a mídia digital entrou de fato no ambiente da educação. Essa cultura escolar mudou bastante; mudou como você vai se relacionar com a tecnologia”.  Além dos aspectos tratados, a falta de preparo para o uso das tecnologias fez com que a professora buscasse cursos para aprender a utilizá-las. Mesmo com todos os percalços, Thaís diz que se encontrou na profissão: “Hoje eu amo esse vínculo que eu tenho com os alunos e com os outros professores”.

O Simpeex e a Secitec continuam até sábado com outras atividades. Nesta quinta-feira, as atenções estarão voltadas para o 14º Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica (SICT).

 

Assista na íntegra à mesa-redonda Desafios Contemporâneos para a Atuação Docente: Licenciaturas em Debate, no canal Eventos- IFG Câmpus Formosa, no YouTube.

 

Setor de Comunicação Social/Câmpus Formosa

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